FALEMOS DE BOMBAS

de Afonso Lisboa (31/1/12)




Falemos de bombas
e daqueles que ainda sonham transformar a saciedade
que as bocas e as mãos erguem em formato de estandarte
Falemos das farpas e das castas que aceitamos
e escondemos a caminho do silêncio
Falemos dos bodes da corrupção ciclicamente necessários
e da guerra que lá longe mata tantos
e das faces pálidas explorando tudo e todos
(e do roubo que cada um pratica só consigo)

Falemos das conversas de café que não existem
dos correios da espionagem universal
e da sonolência sempre sempre tão presente
Falemos das mil faces por segundo procuradas
(que face procuramos e ainda procuramos?)
inventemos milícias de quimera
e gestos públicos de nojo praticados com horário
antes da hora obrigatória das plantas

Falemos da horta que não temos e que mais urge
da água que bebemos só por vício
do ar privado que pagamos com dois versos
da comida feita gasolina
e da gasolina que engolimos
enquanto sofisticados com a voz a combatemos
Falemos de violência e de falta de esperança
dos filhos não-nascidos e da peste erradicada
dos séculos que se cruzam e do dia interminável que aí vem
(plantemos luzes) com a morte do silêncio
(e colhamos sons de bala)

Falemos de assaltos e medidas radicais de segurança
frente à fúria que a natureza dirigiu contra a nossa natureza
Falemos da morte que não vem nunca
e da fome que já esquecemos
por trincarmos só o pão dos desiludidos

Falemos falemos. Depois rezaremos.

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